quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Revolução Francesa - Uma experiência Democrática

François Furet 
Pensando a Revolução
O autor inicia fazendo uma crítica aos historiadores que estudaram a Revolução Francesa e faz uma comparação com aqueles que pesquisaram os Reis Merovíngios ou a Guerra dos Cem Anos, na sua opinião, existe a necessidade de exibir seus títulos para dar credibilidade ao estudo da revolução.¨Não existe interpretação histórica inocente, e a história que se escreve é também história dentro da história.

O rei Luís XVI: o luxo da autoridade monárquica em meio uma nação empobrecida.
O interesse pelas tradições do passado vem de forma a anunciar um novo ano com base na relações de igualdade.  Os estudos acadêmicos sobre a França na época da Revolução, a história ¨moderna¨ termina referindo-se ao que se chamou de ¨Antigo Regime¨.
Em 1815, data que inicia-se o período contemporâneo, sendo um divisor de águas para a história da França. As academias pesquisaram esse período referente ao ¨depois¨, considerado ao que trouxe a ¨luz¨. O autor cita que há a necessidade de refletir sobre este assunto, entende que a história da Revolução deveria ser mais longa, à partir do século XIX ou início do século XX. Interpreta a Revolução como uma luta entre os revolucionários e aqueles que querem  a restauração da monarquia. ¨Pelas mesmas razões com que o Antigo Regime tenha um fim, mas não um nascimento, a Revolução tem um nascimento, mas não um fim.
A Revolução Francesa não é vista somente como república, mas também com a promessa de igualdade e de mudanças, fez com  que o século XX acreditasse na revolução. Os socialistas enxergavam a Revolução como uma aliada aos seus interesses do socialismo, por isso os apoiaram.

A luta pela democracia e pelo socialismo é a base para a igualdade, tornando legitima a Revolução Francesa.
Furet aponta que os historiadores que escreveram a Revolução Francesa, vão buscar no passado da Revolução de 1917, os sentimentos como forma de confirmar a segunda revolução, todo o discurso historiográfico é embasado nessas duas Revoluções, os bolcheviques ancestrais jacobinos que por sua vez tiveram visões comunistas.
A convenção o auge da agitação política na França


O destaque para as classes populares e sua ação revolucionaria, veio a mostrar interesse no papel que os camponeses e o povo da cidade exercia. George Lefebvre em sua pesquisa através da análise do problema e do comportamento dos camponeses, observa do âmbito social, que há várias revoluções naquela que é chamada de Revolução. Existe a Revolução camponesa, revolução dos aristocratas, dos burgueses ou dos sans-culottes, anticapitalista, que queria voltar a suas origens. Segundo Furet, Lefebvre esclarece a história agraria do Antigo Regime entra em conflito com a burguesia de 89 e com a República em 93.

Georges Lefebvre escreveu em 1932: ¨O Antigo Regime engajara a história agrária da França na via do capitalismo; a Revolução concluiu bruscamente a tarefa que ele havia encetado¨.


 O orgulho nacional é o que faz da história da Revolução Francesa um ícone de investigação para pesquisas acadêmicas, se tratando de quem a escreve com relação aos seus heróis e ¨seu¨ evento. Chega-se a conclusão que existem várias histórias reais, histórias liberais, jacobinas, anarquistas. Para Furet todas essas histórias tem em comum uma realidade, são histórias da identidade. ¨Desde há quase duzentos anos, a história da Revolução nunca deixou de ser um relato sobre as origens, e portanto, um discurso sobre a identidade.¨


 Furet faz severas críticas nas obras de Marx, esclarece que não há uma racionalização em suas obras e relata ser confuso na vulgata ¨marxista¨da Revolução Francesa. Cita ainda que, o marxismo transfere o problema da Revolução para a conjuntura econômica e social, distanciando o fato em sí, fazendo referência aos progressos do Capitalismo a vagarosa promoção do Terceiro Estado, limitando-se as causas da revolução sob o modo econômico e social, invés do modo político e ideológico. ¨(...) esse marxismo que penetra com Jaurès na história da Revolução – desloca para o econômico e social o centro de gravidade do problema da Revolução.¨


 Furet discorda da ideia de ruptura do tempo histórico da Revolução e qualquer conceitualização, seu texto nos mostra muitos debates em torno da Revolução Francesa. Nas obras de Tocqueville e  Michelet, atraiu suas atenções sugerindo ser uma das obras mais penetrantes já escritas sob o modo da identidade, enfim, uma história sem conceitos. Tocqueville faz uma pergunta aos seus contemporâneos: ¨Vocês acreditam que a Revolução Francesa é uma ruptura brutal em nossa história?¨ ¨Na realidade, ela é o desabrochar do nosso passado. Ela conclui a obra da monarquia.¨ (...) 

A Batalha de Valmy: o primeiro triunfo do exército revolucionário francês.

A revolução tem haver com a identidade do passado.Tocqueville é o único na historiografia da Revolução que faz decompor o objeto ¨Revolução Francesa¨, uma quebra na cronologia e trata o problema e não o período.

Furet faz um e esboço do que foi a Revolução, as alianças do Terceiro Estado contra a nobreza, as instituições e as classes sociais queriam o passado, enquanto as forças do progresso lutavam a isso, a saída era a revolução.
Um novo argumento classifica a Revolução de ação social, a crise política é a única causa e não somente a  revolta, mas há na Revolução Francesa algo mais normal e natural que porém, da raça humana, o descontentamento. A França de 1787 é uma sociedade sem Estado, ou seja; o Rei Luiz XVI não sabia governar, vivia um reinado de faixada onde não tinha mais autoridade. Todo aparato administrativo da monarquia são ineficientes e desleais.
Desde 89, aqueles que viviam a Revolução e todo seu processo, nada mais foi que uma ilusão de vencer um Estado desmoralizado e inexistente. O antigo regime pertencente ao rei, cujo é uma França de súditos, com a Revolução trás uma nova sociedade, de cidadãos com noção de igualdade que antes não conheciam. Surgem mudanças drásticas, um consenso de ideias nunca antes visto, com uma economia, política, transformadas.

Furet mostra que a França do século XVIII, inaugura uma política democrática como ideologia nacional. ¨A Revolução estende e consolida, levando a seu ponto de perfeição, o Estado administrativo e a sociedade igualitária, cujo desenvolvimento é a obra característica da antiga monarquia.¨

 A sociedade francesa foi chamada pelo rei Luiz XVI a depositaram suas reivindicações, em uma caixa de queixas, os ¨cahiers¨. De todas as reclamações referente ao poder, as mais numerosas são sobre os impostos cobrados, o poder fiscal, o poder real, dando visão ao descontentamento do povo. Os Cahiers de queixas são que dão força aos ideários da revolução, o abandono pelas autoridades tradicionais que poderia fazer investimentos e não fizeram, foi um dos motivos. ¨(...) os Cahiers um tanto ¨eruditos¨, principalmente no nível do bailiado, falam da ¨nação¨ reivindicando a restituição ou a fixação de seus direitos.¨

 Robespierre é um daqueles personagens históricos que podem ser vistos como figuras amadas ou odiadas por sua conduta, um ditador, demagogo ou aquele que escreveu sobre o discurso da igualdade e virtude que dá ação do povo. (...) ¨A imagem de um Robespierre conspirador desmascarado não alimenta mais uma dinâmica revolucionária, mas constitui uma resposta para (e ao mesmo tempo uma muralha contra) a questão central como pensar o Terror?¨


Furet aponta que a intenção de seu livro não é somente verificar a negatividade da Revolução mas, há uma cultura democrática na Revolução Francesa. Cita tocqueville e Augustin Cochin, que compreendem a legitimidade democrática e sua substituição do antigo direito divino. Furet analisa a Revolução Francesa não como sendo transitória, mas uma fantasia de origem, o único interesse histórico está na inauguração da democracia no seu entender. ¨A Revolução Francesa não é uma transição, é uma origem, e uma fantasia de origem. É isso que há de único nela, que constitui seu interesse histórico; e é aliás esse ¨único¨ que se tornou universal: a primeira experiência da democracia.¨

Referência Bibliográfica

FURET,Francois.Pensando a Revolução Francesa.Rio de Janeiro:Paz e Terra,1989.
Fonte Iconográfica






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